quarta-feira, 20 de abril de 2011

Copom surpreende e sobe juros para 12% ao ano no 3º aumento seguido

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, colegiado formado pelos diretores e pelo presidente da autoridade monetária, se reuniu nesta quarta-feira (20) e decidiu subir a taxa básica de juros da economia brasileira de 11,75% para 12% ao ano.

A decisão surpreendeu a maior parte dos analistas do mercado financeiro, que acreditava em um aumento mais pronunciado, para 12,25% ao ano. A definição do Copom sobre a taxa de juros, entretanto, não foi unânime. Cinco diretores votaram pelo aumento de 0,25 ponto percentual implementado hoje, enquanto outros dois gostariam que a taxa subisse 0,5 ponto.

Esta é a terceira alta consecutiva dos juros no país. A taxa já havia sido elevada em janeiro e março deste ano. O BC sobe os juros para tentar controlar a inflação. Para isso, atua para conter a procura por produtos e serviços.

Em 12% ao ano, os juros permaneceram no patamar mais alto desde janeiro de 2009, quando estava em 12,75% ao ano. Trata-se, portanto, do maior valor para a taxa de juros em pouco mais de dois anos. A expectativa do mercado financeiro, até o momento, é de que a taxa termine este ano em 12,25% ao ano.

Explicação
Ao fim do encontro, o Copom divulgou a seguinte frase: "Dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias, o Copom decidiu elevar a taxa Selic para 12,00% a.a., sem viés, por cinco votos a favor e dois votos pelo aumento da taxa Selic em 0,50 p.p. Considerando o balanço de riscos para a inflação, o ritmo ainda incerto de moderação da atividade doméstica, bem como a complexidade que ora envolve o ambiente internacional, o Comitê entende que, neste momento, a implementação de ajustes das condições monetárias por um período suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta em 2012", informou. Com isso, a autoridade monetária sinaliza que novos aumentos podem vir no futuro.

Campeão dos juros
Com a subida da taxa básica da economia para 12% ao ano, o Brasil se isolou na liderança isolada no ranking mundial de juros reais - que são calculados após o abatimento da inflação prevista para os próximos doze meses. Juros altos tendem a atrair capital para a economia brasileira e a pressionar para baixo o dólar.

De acordo com estudo do economista Jason Vieira, da corretora Cruzeiro do Sul, em parceria com Thiago Davino, analista de mercado da Weisul Agrícola, a taxa real de juros do Brasil avançou para 6,2% ao ano, quase o triplo do segundo colocado (Turquia, com 2,2% ao ano). A taxa média de juros de 40 países pesquisados está negativa em 0,9% ao ano.

Sistema de metas para a inflação
Pelo sistema de metas de inflação, que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas. Para 2011 e 2012, a meta central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Deste modo, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.

No primeiro trimestre deste ano, o IPCA, que serve de referência para o sistema de metas, avançou 2,44%, acima da taxa de 2,06% relativa a igual período de 2010. O IPCA-15 de abril, por sua vez, considerado a prévia da inflação deste mês, acelerou para 0,77%, contra 0,60% em março. O mercado financeiro estima que o IPCA avance 6,29% em 2011, enquanto o Banco Central prevê uma inflação de 5,6% para este ano.

Inflação no centro meta só em 2012
No fim de março, por meio do relatório de inflação do primeiro trimestre deste ano, o BC informou que a sua estratégia de definição da taxa básica de juros da economia brasileira tem por objetivo a convergência do IPCA para o centro da meta de inflação, de 4,5%, somente em 2012.

Com isso, a autoridade monetária sinalizou que está abandonando o centro da meta de inflação pelo segundo ano consecutivo. A mesma estratégia foi adotada em 2010 - ano marcado pelas eleições para Presidência da República, governos estaduais, senadores e deputados federais.

O BC argumentou que os custos, em termos de nível de atividade [PIB e geração de empregos], de se atingir a meta de inflação neste ano seriam muito elevados.

Pressões inflacionárias
As pressões inflacionárias dos primeiros meses deste ano estão relacionadas, principalmente, com a subida dos preços das "commodities" (produtos com cotação internacional, como alimentos, minério de ferro e petróleo), dos serviços e dos transportes. Segundo analistas, o preço dos alimentos e dos serviços deverão continuar pressionando a inflação nos próximos meses. Juntos, eles respondem por cerca de 50% do IPCA.

Os preços dos transportes, influenciados pelos combustíveis, também vem registrando aumento nas últimas semanas. Ao mesmo tempo, analistas avaliam que a indexação, ainda presente na economia brasileira, assim como o aumento das expectativas para o IPCA, também ajudam a pressionar para cima a inflação. Por outro lado, o dólar baixo tem ajudado o BC no controle da inflação no Brasil, uma vez que torna os produtos importados mais baratos.


Fonte:G1

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